Relatório finalO objetivo deste trabalho é analisar brevemente os cursos brasileiros de graduação à distância autorizados pelo MEC, através da verificação da facilidade de uma pessoa obter informações a respeito do respectivo curso apenas através dos sites e dos e-mails – considerando que a internet é o meio principal de comunicação entre aluno e universidade, seria lamentável se os cursos não pudessem disponibilizar essas informações apenas via rede. Afinal, se o curso é oferecido pela internet – e grande parte das informações, supõe-se, serão passadas por esse meio – é de esperar que a infra-estrutura de atendimento ao candidato e aluno em potencial também seja baseada em comunicação via internet.
É evidente que é difícil tirar todas as dúvidas de um candidato a um curso cujo modelo é muito recente apenas com informações estáticas dentro de um site. A comunicação é fundamental, e por isso o contato via e-mail também fez parte do trabalho.
Eu busquei informação nas 13 universidades autorizadas pelo MEC (http://www.mec.gov.br/seed/tvescola/regulamentacaoEAD.shtm#instituicoescursos). Para justificar a busca, simulei a seguinte situação:
Moro sozinho com um filho pequeno. Não tenho confiança em babás, e já trabalho em casa. Mas quero fazer um curso de graduação. Com o surgimento dos cursos à distância, posso estudar e trabalhar em casa! Então, sabendo que existe um curso numa universidade local, pretendo obter os mesmos tipos
de informação que gostaria de obter na situação 1. Prefiro uma universidade local porque pode haver a necessidade de aulas presenciais. Nesses momentos, poderia deixar meu filho com minha mãe, já que, acredito, essas aulas são pouco freqüentes e não gostaria de atrapalhar minha mãe deixando meu filho com ela.
Algumas das universidades ofereciam mais de um curso. Para cada uma das instituições, optei pelo curso de conteúdo mais próximo ao de Informática ou Matemática. (No entanto, essa escolha, tal qual a situação simulada, não fez muita diferença, como veremos nos resultados...)
O trabalho consistiu em visitar os sites de todas as universidades, anotar as informações essenciais que faltavam para um candidato aos respectivos cursos à distância e tentar obtê-las através de contatos via e-mail. A partir daí, construir um panorama do atendimento das instituições e, assim, obter uma resposta à pergunta Quão preparados estão as universidades para oferecer cursos de graduação à distância
O que seriam informações essenciais para o candidato? Forma de ingresso no curso (provavelmente vestibular), edital do vestibular, prazo do curso, quantidade de aulas presenciais, métodos de avaliação, formas de acompanhamento por parte da universidade, valores das mensalidades, caso houvesse, equipamento necessário e para quem eram destinadas às aulas (esse critério não foi considerado a princípio; porém, à medida que fui visitando os sites, pude perceber que várias universidades oferecem o curso de graduação à distância para públicos restritos, como funcionários de empresas conveniadas ou comunidades carentes. Portanto, incorporei tal característica como informação essencial a respeito do curso).
Eis uma breve análise da qualidade das informações obtidas em cada uma das instituições:
• Universidade Federal do Ceará - CE (Licenciatura Plena em Matemática)
Nenhuma referência sequer ao curso à distância.
O e-mail não foi respondido.
• Faculdade de Administração de Brasília - DF (Administração)
Informações suficientes no site.
• Universidade Federal do Espírito Santo - ES (Licenciatura Plena em Pedagogia)
Informações desatualizadas no site e nenhuma referência à estrutura do curso.
O e-mail não foi respondido.
• Universidade Estadual do Maranhão - MA (Licenciatura Plena em Magistério)
Página só se referia à implantação do curso em 2001 em algumas cidades maranhenses.
O e-mail não foi respondido.
• Universidade Federal de Ouro Preto - MG (Licenciatura em Educação Básica)
Poucas informações sobre como participar da graduação.
O e-mail não foi respondido.
• Universidade Federal do Mato Grosso - MT (Licenciatura Plena em Educação Básica de 1ª a 4ª séries)
Estava disponível um documento em Word de 76 páginas com muitas informações, mas que não foi lido (supõe-se que um candidato gostaria de obter as informações de forma mais objetiva).
O endereço eletrônico disponibilizado na página não existe.
• Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - MS (Licenciatura Plena em Pedagogia)
Informações suficientes no site.
• Universidade Federal do Pará - PA (Bacharelado em Matemática)
Informações suficientes no site.
• Universidade Federal do Paraná - PR (Licenciatura Plena em Pedagogia)
Poucas informações na página.
O e-mail não foi respondido.
• Universidade Estadual do Norte Fluminense - RJ (Licenciatura Plena em Ciências Biológicas)
• Universidade Federal Fluminense - RJ (Licenciatura Plena em Matemática)
(o curso de ambas as universidades do Estado do Rio de Janeiro é organizado pelo mesmo órgão, o Cederj)
Repleto de informações, apenas chamou a atenção o fato de o edital do vestibular não cobrar o diploma de Ensino Médio na inscrição. A pergunta foi feita no e-mail.
O e-mail não foi respondido.
• Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - RS (Bacharelado em Engenharia Química)
Poucas informações sobre o curso de graduação.
No e-mail de resposta, fui informado de que o curso é disponibilizado apenas para funcionários da OPP (Petroquímica do Rio Grande do Sul).
• Universidade do Estado de Santa Catarina - SC (Licenciatura Plena em Pedagogia)
Informações suficientes no site.
É importante ressaltar que, por oferecer um curso de graduação à distância apenas para funcionários de uma empresa, a PUC-RS não foi mais inquirida quanto às informações sobre inscrição no curso, uma vez que os dados não interessariam mais ao candidato da simulação.
Entretanto, vale lembrar que os cursos da UFMS, UFPa e Udesc são oferecidos a públicos bem restritos, mas mesmo assim as informações dispostas nos seus respectivos sites são completas e dão uma boa medida do que um eventual aluno vai encontrar após se matricular no curso.
Enfim, como conclusões deste trabalho, podemos citar:
• Como conclusão principal, a falta de preparo das universidades no uso da Internet como ferramenta de comunicação entre candidato e instituição. Ora, se a universidade se propõe a oferecer cursos através da Web, mas é incapaz de disponibilizar informações em seu site ou de transmiti-las através de correio eletrônico (com poucas exceções), fica difícil acreditar que há uma infra-estrutura sólida o suficiente para suportar aulas e acompanhamento via Internet durante quatro ou cinco anos. Há o caso extremo da Universidade Federal do Ceará, que é autorizada pelo MEC a oferecer o curso mas sequer o referencia em sua página na WWW!
• Vários dos cursos de graduação à distância existentes no país são voltados para públicos específicos. Embora alguns deles não apresentem restrição alguma ao candidato, muitos dos cursos são oferecidos para comunidades carentes e/ou próximas às cidades-sede das universidades; para funcionários de empresas conveniadas; para professores da rede pública do Estado em que se localiza a universidade; e por aí vai.
• Das 13 universidades, 4 “passaram no teste” apenas com visitas aos seus sites, enquanto uma completou as informações respondendo um e-mail. As oito restantes nem oferecem informações suficientes em suas páginas nem responderam, em uma semana, ao e-mail de um suposto candidato que solicitava informações a respeito do processo de seleção e de inscrição do curso. Das cinco instituições que ofereceram as informações completas, encontram-se exatamente as duas faculdades que, de todas aquelas autorizadas a oferecer cursos de graduação à distância, não são públicas: a FAAB-DF e a PUC-RS; embora a representatividade das duas instituições seja muito pequena, a constatação dá um sinal de que o fato de ser uma instituição privada pode indicar maior qualidade na disponibilidade de informações via Internet sobre cursos de graduação à distância.
Está claro que este trabalho não pode ser considerado como único indicador de qualidade de um curso de graduação à distância (seria ousadia demais!!). Até porque seria preciso simular não apenas um candidato em busca de informações sobre o curso, mas também um aluno que vivenciaria as dificuldades que existem em acompanhar um curso dessa modalidade. A facilidade de se obter as informações a respeito do curso, portanto, seria apenas um critério a ser observado dentro de uma análise mais profunda a respeito do ensino de graduação à distância no Brasil.
Porém, é certo que este trabalho traz uma pequena contribuição para a verificação de que há, sim, problemas no oferecimento de cursos de graduação à distância no país. Afinal, por que é tão difícil obter informações sobre os cursos via Internet, levando-se em conta que é através da rede que o curso será ministrado? As conclusões desta breve análise podem servir, no futuro, como ponto de partida para que sejam investigados os motivos que dificultam o rápido acesso a informações sobre os processos de seleção e andamento dos cursos de graduação à distância e, assim, facilitar a vida de potenciais candidatos.
posted at 12:30 AM